5 de fevereiro é o Dia Nacional da Mamografia. Instituído há 2 anos, a partir do Projeto de Lei da Senadora Maria do Rosário (PT-RS), a data objetiva sensibilizar mulheres sobre a importância de realizar o exame para a detecção precoce do câncer de mama, uma das principais causas de morte entre mulheres no Brasil.
Hoje existem 3315 mamógrafos no país, e o relatório do Tribunal de Contas da União divulgou que o número é adequado em relação ao que preconizam organismos internacionais (se a distribuição fosse homogênea, o número adequado seria 1 mamógrafo para cada 240.000 habitantes). Acontece que, da população brasileira, 80% utilizam o SUS, e destes 3315 mamógrafos, apenas 1650 estão disponíveis no sistema público, sendo que 412 pertencem exclusivamente às UPSs (Unidades Públicas de Saúde). Além disso, sabe-se que a distribuição dos mamógrafos não é homogênea para servir adequadamente às necessidades da população.
Para o diretor médico do Instituto Oncoguia, o oncologista clínico Dr. Rafael Kaliks, além da questão do número de aparelhos, a simples disponibilidade de mamógrafos no país não garante o impacto do exame na redução da mortalidade por câncer de mama. “Deve-se garantir, por exemplo, a qualidade do exame realizado. Um rastreamento mal feito dá a falsa sensação de segurança à paciente e ao sistema de saúde como um todo”, comenta. Também, para que a execução da mamografia de rastreamento traga benefício a uma mulher, um resultado anormal no exame deve ser seguida de investigação imediata (com exames adicionais) e tratamento apropriado em tempo hábil, entre 30 e 40 dias diante de um eventual diagnóstico de câncer. “Tal eficiência ainda não existe no Brasil”, destaca Dr. Kaliks.
Outra questão para reflexão nesse Dia Nacional da Mamografia, recorre sobre a “aderência” ao exame. De acordo com o INCA, 70% das brasileiras entre 50 e 69 anos têm acesso à mamografia – incluindo rede pública e privada. No entanto, dados da Pesquisa Avon/IPSOS – Percepções sobre o Câncer de Mama – revelam que apenas 20% das mulheres brasileiras fazem a mamografia ao menos a cada dois anos. “O importante é garantir que ao menos 70% da população elegível faça o exame, caso contrário não se observará redução da mortalidade por câncer de mama graças a esta estratégia de rastreamento”, afirma Rafael Kaliks. Para a presidente do ONCOGUIA, Luciana Holtz, além da questão da disponibilidade do mamógrafo, são inúmeras barreiras à aderência das brasileiras. “Há o medo pela dor durante o exame, há o medo da possibilidade da descoberta de um câncer (ainda há quem pense que é melhor não fazer para não saber). Há o medo de resultados errados, há o medo do estigma social do câncer”.
Holtz e Kaliks finalizam com um alerta sobre os chamados grupos de risco: pacientes com familiares próximos que tiveram câncer de mama e/ou ovário em idade precoce (antes dos 50 anos), devem ficar alertas e discutir a questão com seus respectivos médicos. Para estas pessoas com história familiar, o rastreamento DEVE ser iniciado mais precocemente, sob orientação idealmente de um mastologista ou ginecologista com experiência em câncer de mama. “Tais mulheres podem ter uma indicação formal de fazer rastreamento com ressonância nuclear magnética, se confirmado que elas de fato pertencem a um grupo de risco elevado. Para pacientes de alto risco, a ressonância é recomendada mundialmente, como complemento à mamografia e ao exame das mamas por um profissional habilitado. Além desta estratégia mais agressiva de rastreamento, famílias com risco elevado deveriam ter à disposição orientação oncogenética. O oncogeneticista consegue mapear a família e calcular o risco de um câncer, ajudando a formular estratégias de prevenção de maneira individualizada”, afirma o oncologista. “Além de todos estes dados relativos ao rastreamento de pessoas supostamente saudáveis, quaisquer mulheres que notem alteração nas mamas devem buscar um mastologista imediatamente, não esperando pelo próximo exame anual”, finaliza Luciana.